A Vera mora comigo, agora. É uma miúda fantástica. Esta semana estive a tentar ensinar-lhe, mais que em todos os outros dias, valores importantes. Expliquei-lhe que as pessoas boas habitam a nossa vida todos os dias e que só temos de fazer um esforço para que também nos reconheçam como tal. Que nem sempre corre tudo bem, mas que, apesar de tudo, quer queiram quer não, farão sempre parte da nossa vida.
Num destes dias, enquanto estávamos a lanchar, expliquei à Vera que, o que importa, é fazer ver às pessoas boas, que nós partilhamos os mesmos valores. E que era neste capítulo que entravam as boas acções, a amizade, o dar a mão.
Ao que ela me perguntou:
-Há um menino na minha sala que é bonzinho. Gosto muito dele. Mas ele não fala comigo. Achas que devia ir dar a mão a ele no recreio? Ele tem sempre as mãos cheias de areia.
Só pude conter uma gargalhada e continuar:
-Dar a mão.. Imagina que esse menino caía num buraco muito grande. Tinhas de lhe dar a mão para o ajudar a sair de lá, não é?
-Pois. - e como é fantasticamente inteligente, - O.K. Dar a mão é como tirar o Miguel do buraco.
-Sim Vera.
-Dar a mão é ajudar.
Por dentro rejubilei. É tão bom poder partilhar a minha vida com uma miúda como a Vera.
Soube desde a primeira vez que a vi que aqueles olhos grandes ser-me-iam confiados.
Nisto, o copo de leite com chocolate da Vera cai ao chão, estilhaçando-se.
-Aiiii! Dá-me a mão!
Enquanto apanhava os vidros e lhe limpava o vestido branco, não pude conter o riso.
30.12.06
9.11.06
somebody's baby
haven't laughed this hard in a long time
i better stop
now before I start crying
go off to sleep in the
sunshine
i don't want to see the day when it's
dying
she's a sight to see, she's good to
me
but i'm already somebody's baby
i better stop
now before I start crying
go off to sleep in the
sunshine
i don't want to see the day when it's
dying
she's a sight to see, she's good to
me
but i'm already somebody's baby
4.11.06
2.11.06
Gostar.
“Fico espantada quando dizem que gostam de mim (…) Não gosto da maioria das pessoas.”
Agustina Bessa Luís
Agustina Bessa Luís
19.9.06
Fala.
Fala a sério e fala no gozo
Fá-la pela calada e fala claro
Fala deveras saboroso
Fala barato e fala caro
Fala ao ouvido fala ao coração
Falinhas mansas ou palavrão
Fala à miúda mas fá-la bem
Fala ao teu pai mas ouve a tua mãe
Fala francês fala béu-béu
Fala fininho e fala grosso
Desentulha a garganta levanta o pescoço
Fala como se falar fosse andar
Fala com elegância - muito e devagar.
Alexandre O'Neil
Fá-la pela calada e fala claro
Fala deveras saboroso
Fala barato e fala caro
Fala ao ouvido fala ao coração
Falinhas mansas ou palavrão
Fala à miúda mas fá-la bem
Fala ao teu pai mas ouve a tua mãe
Fala francês fala béu-béu
Fala fininho e fala grosso
Desentulha a garganta levanta o pescoço
Fala como se falar fosse andar
Fala com elegância - muito e devagar.
Alexandre O'Neil
9.9.06
29.7.06
Conheci uma menina (XVII) - local heroes and international superstars.
Estávamos todos. A Vera, eu, e os amigos e os amantes. Havia amor no ar. Inundámos a estação dos comboios de uma paixão avassaladora, potente, com crosta de indestrutível, sob os 43ºC que se faziam sentir. Tínhamos, nós as meninas, as t-shirts, os tops, os bikinis, as saias e as calças coladas ao corpo. Havia suor a saber a sal e escorria pelas nossas pernas. Os rapazes, mais ou menos desportivos, mais ou menos bronzeados, traziam as camisas ou as t-shirts amarrotadas. Pudera, a viagem de carro tinha sido estafante, e os seus ombros foram colos irrepreensíveis na cura dos nossos sonos, atrasados. Para além disso, estávamos todos bem-dispostos. Ganchos no cabelo, malas coloridas, chinelos nos pés queimados - nós. Cabelo queimado do sol, bronze fantástico e namoradas bonitas - eles.
De vez em quando fazíamos beicinho, provocávamos. Gostávamos de saber que eles viviam por nós. Pedíamos que nos dessem as garrafas de água, morna, e ao bebê-la com sofreguidão acabávamos por entorná-la em nós. Era de propósito, nós sabíamos e eles também. Mas mesmo assim não deixávamos de fazer a cena do 'oh e agora?'. Vestidas de uma roupa que era nada mais que isso mesmo, transparente, eles sentiam-nos quentes, queridas, prontas e soltas.
Ao fim de cerca de 20 minutos, o comboio chegava.
Corremos todas as carruagens, já em andamento, na procura de uma zona onde houvessem lugares suficientes para irmos juntos.
Ocupámos os lugares vazios de alguém que nao comprara aqueles bilhetes e seguimos. Os corpos latejavam e colavam-se. 37ºC.
A viagem fazia sentir-se longa, por isso, esperámos. Afinal, o ano tinha sido passado a desesperar.
De vez em quando fazíamos beicinho, provocávamos. Gostávamos de saber que eles viviam por nós. Pedíamos que nos dessem as garrafas de água, morna, e ao bebê-la com sofreguidão acabávamos por entorná-la em nós. Era de propósito, nós sabíamos e eles também. Mas mesmo assim não deixávamos de fazer a cena do 'oh e agora?'. Vestidas de uma roupa que era nada mais que isso mesmo, transparente, eles sentiam-nos quentes, queridas, prontas e soltas.
Ao fim de cerca de 20 minutos, o comboio chegava.
Corremos todas as carruagens, já em andamento, na procura de uma zona onde houvessem lugares suficientes para irmos juntos.
Ocupámos os lugares vazios de alguém que nao comprara aqueles bilhetes e seguimos. Os corpos latejavam e colavam-se. 37ºC.
A viagem fazia sentir-se longa, por isso, esperámos. Afinal, o ano tinha sido passado a desesperar.
19.6.06
13.6.06
Oh-quero-lá-saber. 2.
Mamã, se vir um episódio completo da Floribella os meus filhos vão nascer com deficiências?
10.6.06
Intoxicação 14
eu só queria que tu gostasses de mim.
um bocadinho, quando tivesses tempo.
ou à hora do almoço.
na sesta.
eu queria que gostasses um bocadinho.
quando não tivesses mais nada para fazer.
que chamasses catarina, catarina, mesmo a dormir.
de fora de ti.
que fosses passear e gostasses do meu nome inscrito em todas as coisas.
a jogar às cartas, que eu fosse pequenina.
queria que tu olhasses para todas, e soubesses que o meu cheiro nao era aquele.
sem pensar nisso.
só um bocadinho.
queria que te perdesses nas palavras e em todas lesses catarina.
que te aparecessem, em sonhos ou jogos de futebol, as cores do meu cabelo.
ou em qualquer lado.
queria que risses de cada vez que alguém dissesse o meu nome.
e que morresses de cada vez que o meu perfume passasse por ti,
na ausência,
no não ser eu, nem tu.
um bocadinho, quando tivesses tempo.
ou à hora do almoço.
na sesta.
eu queria que gostasses um bocadinho.
quando não tivesses mais nada para fazer.
que chamasses catarina, catarina, mesmo a dormir.
de fora de ti.
que fosses passear e gostasses do meu nome inscrito em todas as coisas.
a jogar às cartas, que eu fosse pequenina.
queria que tu olhasses para todas, e soubesses que o meu cheiro nao era aquele.
sem pensar nisso.
só um bocadinho.
queria que te perdesses nas palavras e em todas lesses catarina.
que te aparecessem, em sonhos ou jogos de futebol, as cores do meu cabelo.
ou em qualquer lado.
queria que risses de cada vez que alguém dissesse o meu nome.
e que morresses de cada vez que o meu perfume passasse por ti,
na ausência,
no não ser eu, nem tu.
30.5.06
outro dia 30. sabes, é que gosto de ti. conheci uma menina (III) - replay. patrícia.
A tarde estava serena e bonita. E quente, quando as nuvens se decidiam a passar.
Sentei-me, enfim, no chão do jardim do hospital. Santa Maria é um sítio calmo. Com uma paz arrepiante por fora. Grande e impessoal. Estiquei as pernas num acto de inutilidade e absoluta impotência. E fez-me falta alguém que me gritasse.
A Vera apareceu então, vestida de cores berrantes. Fez-me doer os olhos.Vinha felicíssima. Trazia na mão um molho de flores lilases. Quando me viu, correu na minha direcção, atirou-se-me ao pescoço e fez-me cair para trás. E ficámos com as ervas secas coladas à roupa triste. Ria muito e queria falar ao mesmo tempo.
A Vera está cada vez mais bonita. O que, de todo, não lhe garante absolutamente nada.
Sentei-me, enfim, no chão do jardim do hospital. Santa Maria é um sítio calmo. Com uma paz arrepiante por fora. Grande e impessoal. Estiquei as pernas num acto de inutilidade e absoluta impotência. E fez-me falta alguém que me gritasse.
A Vera apareceu então, vestida de cores berrantes. Fez-me doer os olhos.Vinha felicíssima. Trazia na mão um molho de flores lilases. Quando me viu, correu na minha direcção, atirou-se-me ao pescoço e fez-me cair para trás. E ficámos com as ervas secas coladas à roupa triste. Ria muito e queria falar ao mesmo tempo.
A Vera está cada vez mais bonita. O que, de todo, não lhe garante absolutamente nada.
23.5.06
20.5.06
disse.
que a vida não era mais que perder. com método.
que afinal, se enganara. que perder sem jeito também era do protocolo. que as regras deixavam chorar e permitiam o desvario.
e quando, finalmente, ganhou - o erro era crasso - fez tudo por perder, num jeito estúpido de quem não deixa ser..
que afinal, se enganara. que perder sem jeito também era do protocolo. que as regras deixavam chorar e permitiam o desvario.
e quando, finalmente, ganhou - o erro era crasso - fez tudo por perder, num jeito estúpido de quem não deixa ser..
1.5.06
modus operandi
chega. trémula e de sorriso fechado. olá. segue a conversa, atenta. entra no jogo. sem medo. experimenta. retrai. e tu, como estás? passa para a frente. mostra o mundo. ri-se. leva-o no seu brilho. está sempre em vantagem. larga um sorriso. sacode o cabelo. brinca com as mãos. agita-se. sempre em vantagem. joga. mostra o olhar. prende. sorri. avança e retrai-se. é o jogo. sempre a sorrir. e o olhar. que prende. são os ombros, a pele. despe de cor. nos olhos. prende. sorri.
abandona o jogo. a pressa é só de ganhar.
25.4.06
24.4.06
22.4.06
ao olhar para trás, perdi-me.
Eu sabia que o dia não me seria fiel, por isso, demorei a acordar. Por isso, esperei com a calma possível, que a noite se encarregasse disso.
Eram duas da manhã e a noite não chegava. Eram três da manhã e demorava a chegar.
Às quatro saí à procura de qualquer coisa e decidi-me que não voltaria atrás. Nunca mais. Não voltaria a olhar para trás. Nunca mais.
Eram duas da manhã e a noite não chegava. Eram três da manhã e demorava a chegar.
Às quatro saí à procura de qualquer coisa e decidi-me que não voltaria atrás. Nunca mais. Não voltaria a olhar para trás. Nunca mais.
21.4.06
17.4.06
Conheci uma menina (XVI)
Eram cinco ou seis da tarde. O dia mostrava o sol, sem medo. O vento ficara para trás, mais lento que nós. A estrada era seca, deserta de gente.. e o que quer que víssemos não nos fazia querer parar. Eu ao volante, a Vera ao lado.
Ela, de pele já morena, vestido branco - salgado, dormia encostada à porta do jipe enquanto as mãos pequeninas brincavam com o cabelo seco e estragado.
Eu, de pele seca - salgada e morena, seguia de janela aberta à espera que o caminho me mostrasse poiso.
O dia tinha sido exaustivo. Praia desde cedo, muito mar, muita areia. Muito não-sei-quê que cansa e torna o suposto descanso tão impossível. Bóias, castelos, raquetes, conchas, búzios, sumos, sandes, bóias, castelos, raquetes, conchas, búzios..
E agora o jipe branco levava-nos pela costa alentejana abaixo.
Parámos, por fim, ao pé de uma paragem de autocarro, deserta de clientes - para onde vai um autocarro ali? Havia uma banca de melancias, laranjas e mais frutos que não vi.
-Quero uma melancia, por favor. Aquela - apontei.
-Faça favor, menina. Quer que abra já?
Entretanto Vera acordara e chamava por mim.
-Não sejas preguiçosa, há aqui melancia. - disse-lhe, sorrindo e olhando para as laranjas. - Pode abrir, se não se importa. - redargui ao senhor das melancias.
-Vera, prova, querida. - enquanto lhe passava uma fatia para as mãos dormentes.
Paguei e sentámo-nos no banco de quem espera pelo autocarro para não-sei-onde. Chegou, parou, abriu a porta.
-As meninas vão entrar?
-Vai para onde, Sr. motorista?
-Dizem que vai para longe - riu-se.
-Sim, para onde? - insisti.
Sorriu, e continuou a viagem. A Vera puxou-me o braço e apontou-me a matrícula ainda próxima do autocarro. Não tinha. Era uma chapa, grande, que ocupava toda a traseira. "Vou não sei para onde, levo não sei quem. Não volto." Corremos para o autocarro ainda vagaroso, enquanto o sumo da melancia nos escorria pela cara, mãos e roupa.
- Abra, por favor!
E, deixando o jipe para trás, seguimos juntas, como sempre.
Ela, de pele já morena, vestido branco - salgado, dormia encostada à porta do jipe enquanto as mãos pequeninas brincavam com o cabelo seco e estragado.
Eu, de pele seca - salgada e morena, seguia de janela aberta à espera que o caminho me mostrasse poiso.
O dia tinha sido exaustivo. Praia desde cedo, muito mar, muita areia. Muito não-sei-quê que cansa e torna o suposto descanso tão impossível. Bóias, castelos, raquetes, conchas, búzios, sumos, sandes, bóias, castelos, raquetes, conchas, búzios..
E agora o jipe branco levava-nos pela costa alentejana abaixo.
Parámos, por fim, ao pé de uma paragem de autocarro, deserta de clientes - para onde vai um autocarro ali? Havia uma banca de melancias, laranjas e mais frutos que não vi.
-Quero uma melancia, por favor. Aquela - apontei.
-Faça favor, menina. Quer que abra já?
Entretanto Vera acordara e chamava por mim.
-Não sejas preguiçosa, há aqui melancia. - disse-lhe, sorrindo e olhando para as laranjas. - Pode abrir, se não se importa. - redargui ao senhor das melancias.
-Vera, prova, querida. - enquanto lhe passava uma fatia para as mãos dormentes.
Paguei e sentámo-nos no banco de quem espera pelo autocarro para não-sei-onde. Chegou, parou, abriu a porta.
-As meninas vão entrar?
-Vai para onde, Sr. motorista?
-Dizem que vai para longe - riu-se.
-Sim, para onde? - insisti.
Sorriu, e continuou a viagem. A Vera puxou-me o braço e apontou-me a matrícula ainda próxima do autocarro. Não tinha. Era uma chapa, grande, que ocupava toda a traseira. "Vou não sei para onde, levo não sei quem. Não volto." Corremos para o autocarro ainda vagaroso, enquanto o sumo da melancia nos escorria pela cara, mãos e roupa.
- Abra, por favor!
E, deixando o jipe para trás, seguimos juntas, como sempre.
6.4.06
6º Esq.
'Há decididamente algo de verdade nessa frase do mais-escuro-antes-do-amanhecer porque na manhã seguinte liguei para a clínica psiquiátrica do hospital e a minha vida começou a melhorar. A minha assistente associal, Mrs. Goldfrab, pegou num bloco e num lápis e começou a fazer uma lista de todas as drogas que eu tomara na minha vida: LSD, mescalina, Percodan, calmantes, Seconal, cocaína, ópio, anfetaminas, haxixe e marijuana. Acenou com a cabeça e comentou:
- Um belo arsenal.
Quando lhe disse que o meu agente da condicional era um estupor, ficou danada. Quando lhe disse que me sentia culpada de o Raymond se ter tornado um drogado porque fiquei grávida e lhe dei cabo da vida, ela disse-me que era um disparate. Quando lhe disse que achava que não amava o Jason, redarguiu que tinha a certeza que eu o amava. Agradou-me a revolta dela contra o Stanley Stupski mas não acreditei nas outras duas questões. Mesmo assim, era óptimo ter alguém do meu lado. Então, após dois meses de consultas semanais, classificou-me como esteta e disse:
- És muito inteligente para desperdiçares a tua vida. Devias ir para a faculdade.
Comecei a chorar.'
in Os Rapazes da Minha Vida, de Beverly Donofrio
3.4.06
26.3.06
23.3.06
Sabes..
..é que à noite, quando se ouvem os pássaros que não dormem..
..é que à noite, quando se proporciona que aconteçamos..
há poesia ilustrada.
e é surreal que o fumo nos cubra as mãos..
..é que à noite, quando se proporciona que aconteçamos..
há poesia ilustrada.
e é surreal que o fumo nos cubra as mãos..
11.3.06
5.3.06
Parabéns Catarina
Pretextos para fugir do real |
A uma luz perigosa como água |
19.
1.3.06
Youpi.
21.2.06
19.2.06
16.2.06
14.2.06
29.1.06
28.1.06
Conheci uma menina (XV)
Comecei por não entender o que se passava. Como se um não-entendimento pudesse ser começo de alguma coisa..
A multidão juntava-se em volta da montra e estacava. Ficavam calados, e voltavam pálidos, cavernosos, a pele como se tivesse sido encerada.. No meio da estrada os carros começaram também a parar, em tentativas fracas de perceber o que estava a acontecer. Até que alguém sussurrou perto de mim que já estava a ligar para o 112. "Atropelamento na rua 23..depressa, é uma criança!" e a multidão continuava a engrossar.
Nestas alturas aparece sempre um bombeiro ou alguém grita que é médico. Não podia ser uma criança. "Não pode ser." Não podia ser a minha criança. "Não pode ser." Não podia ser a Vera. "Não pode ser." Mas de repente estava frio e foi como se me afogasse num buraco de pesca dos esquimós. Cortados no gelo. De repente não estava ali e ninguém tinha sido atropelado, muito menos uma criança. Muito menos a minha criança..
Mas como se fazia para andar? Um pé à frente do outro e uma noção de equilíbrio..-não soube.
E começaram as gargalhadas que me eram tão docemente familiares e ao fundo da rua, de gelado na mão, a criança do vestido branco. Soube de novo correr, respirar e, mais que nunca, soube a tanto a vontade de não a perder. A Vera.
Chegou o 112 e soube-se depois que a criança atropelada morrera.
Mas, e então?..
A multidão juntava-se em volta da montra e estacava. Ficavam calados, e voltavam pálidos, cavernosos, a pele como se tivesse sido encerada.. No meio da estrada os carros começaram também a parar, em tentativas fracas de perceber o que estava a acontecer. Até que alguém sussurrou perto de mim que já estava a ligar para o 112. "Atropelamento na rua 23..depressa, é uma criança!" e a multidão continuava a engrossar.
Nestas alturas aparece sempre um bombeiro ou alguém grita que é médico. Não podia ser uma criança. "Não pode ser." Não podia ser a minha criança. "Não pode ser." Não podia ser a Vera. "Não pode ser." Mas de repente estava frio e foi como se me afogasse num buraco de pesca dos esquimós. Cortados no gelo. De repente não estava ali e ninguém tinha sido atropelado, muito menos uma criança. Muito menos a minha criança..
Mas como se fazia para andar? Um pé à frente do outro e uma noção de equilíbrio..-não soube.
E começaram as gargalhadas que me eram tão docemente familiares e ao fundo da rua, de gelado na mão, a criança do vestido branco. Soube de novo correr, respirar e, mais que nunca, soube a tanto a vontade de não a perder. A Vera.
Chegou o 112 e soube-se depois que a criança atropelada morrera.
Mas, e então?..
21.1.06
a prostituição do sorriso.
5 euros - sorriso em estado comum de anormalidade, 2 (duas) horas.
10 (?) euros - sorriso em estado profundo de anormalidade, 2 (duas) + 3 (três) horas.
Num cinema perto de si.
10 (?) euros - sorriso em estado profundo de anormalidade, 2 (duas) + 3 (três) horas.
Num cinema perto de si.
lusco fusco.
fusca (para ti):
http://pulchraluscofusco.blogspot.com/
disponível também na barra vertical à sua direita e em todos os hipermercados Modelo e Continente.
http://pulchraluscofusco.blogspot.com/
disponível também na barra vertical à sua direita e em todos os hipermercados Modelo e Continente.
18.1.06
outro dia 18
"Deixo para ti o que nunca te dei. Dei. Mas nunca te fiz sentir o que dava. Deixo-te toda a minha confiança, toda a minha paz. Que nunca te mostrei, mas que sabias (eu sei que sim!) que te estava prometida.
Um ano depois, sei que não houve outro dia tão triste, outro dia em que me fizesses tanta falta. Sei que não houve outro dia em que me custasse tanto aguentar tudo. O Sol, o vento, os choros. Fazes a falta do básico. Eras tão básica à minha volta. Fazias parte das pedras, parte dos meus ossos, de tudo o que fui até àquele dia. E às vezes eras má. Fazias de mamã. Como se tivesses o direito! (e tinhas, tinhas todo!). As vezes que me irritaste com o feitio provocador, o olhar de quem põe e dispõe das coisas como quer e lhe apetece.
E é por me teres feito sentir revolta e amor que me fazes tanta falta.
É por isso que um ano depois não estás enterrada em mim."
é só outro dia 18..
Um ano depois, sei que não houve outro dia tão triste, outro dia em que me fizesses tanta falta. Sei que não houve outro dia em que me custasse tanto aguentar tudo. O Sol, o vento, os choros. Fazes a falta do básico. Eras tão básica à minha volta. Fazias parte das pedras, parte dos meus ossos, de tudo o que fui até àquele dia. E às vezes eras má. Fazias de mamã. Como se tivesses o direito! (e tinhas, tinhas todo!). As vezes que me irritaste com o feitio provocador, o olhar de quem põe e dispõe das coisas como quer e lhe apetece.
E é por me teres feito sentir revolta e amor que me fazes tanta falta.
É por isso que um ano depois não estás enterrada em mim."
é só outro dia 18..
16.1.06
"twilight" ou "das 4 da manhã"
com este silêncio todo, ninguém acredita que é Lisboa à minha janela.
13.1.06
8.1.06
Conheci uma menina (XIV)
Soprei com força na vara que faz dar forma ao vidro.
Quis muito que rebentasse, mesmo contigo ao meu lado.
Imagina só - ter-te vidrada para sempre..
Quis muito que rebentasse, mesmo contigo ao meu lado.
Imagina só - ter-te vidrada para sempre..
2.1.06
Conheci uma menina (XIII)
31/Dez/o5
Querida Vera,
Aqui o barulho suporta-se tão mal como a ansiedade pela chegada do novo ano.
Fuma-se à porta - para que ninguém sinta, veja.
Vive-se às escondidas, ainda.
Querida Vera,
Aqui o barulho suporta-se tão mal como a ansiedade pela chegada do novo ano.
Fuma-se à porta - para que ninguém sinta, veja.
Vive-se às escondidas, ainda.
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