29.7.06

Conheci uma menina (XVII) - local heroes and international superstars.

Estávamos todos. A Vera, eu, e os amigos e os amantes. Havia amor no ar. Inundámos a estação dos comboios de uma paixão avassaladora, potente, com crosta de indestrutível, sob os 43ºC que se faziam sentir. Tínhamos, nós as meninas, as t-shirts, os tops, os bikinis, as saias e as calças coladas ao corpo. Havia suor a saber a sal e escorria pelas nossas pernas. Os rapazes, mais ou menos desportivos, mais ou menos bronzeados, traziam as camisas ou as t-shirts amarrotadas. Pudera, a viagem de carro tinha sido estafante, e os seus ombros foram colos irrepreensíveis na cura dos nossos sonos, atrasados. Para além disso, estávamos todos bem-dispostos. Ganchos no cabelo, malas coloridas, chinelos nos pés queimados - nós. Cabelo queimado do sol, bronze fantástico e namoradas bonitas - eles.
De vez em quando fazíamos beicinho, provocávamos. Gostávamos de saber que eles viviam por nós. Pedíamos que nos dessem as garrafas de água, morna, e ao bebê-la com sofreguidão acabávamos por entorná-la em nós. Era de propósito, nós sabíamos e eles também. Mas mesmo assim não deixávamos de fazer a cena do 'oh e agora?'. Vestidas de uma roupa que era nada mais que isso mesmo, transparente, eles sentiam-nos quentes, queridas, prontas e soltas.
Ao fim de cerca de 20 minutos, o comboio chegava.
Corremos todas as carruagens, já em andamento, na procura de uma zona onde houvessem lugares suficientes para irmos juntos.
Ocupámos os lugares vazios de alguém que nao comprara aqueles bilhetes e seguimos. Os corpos latejavam e colavam-se. 37ºC.
A viagem fazia sentir-se longa, por isso, esperámos. Afinal, o ano tinha sido passado a desesperar.