30.12.06

Conheci uma menina (XVIII) - a Vera não morreu.

A Vera mora comigo, agora. É uma miúda fantástica. Esta semana estive a tentar ensinar-lhe, mais que em todos os outros dias, valores importantes. Expliquei-lhe que as pessoas boas habitam a nossa vida todos os dias e que só temos de fazer um esforço para que também nos reconheçam como tal. Que nem sempre corre tudo bem, mas que, apesar de tudo, quer queiram quer não, farão sempre parte da nossa vida.
Num destes dias, enquanto estávamos a lanchar, expliquei à Vera que, o que importa, é fazer ver às pessoas boas, que nós partilhamos os mesmos valores. E que era neste capítulo que entravam as boas acções, a amizade, o dar a mão.
Ao que ela me perguntou:
-Há um menino na minha sala que é bonzinho. Gosto muito dele. Mas ele não fala comigo. Achas que devia ir dar a mão a ele no recreio? Ele tem sempre as mãos cheias de areia.
Só pude conter uma gargalhada e continuar:
-Dar a mão.. Imagina que esse menino caía num buraco muito grande. Tinhas de lhe dar a mão para o ajudar a sair de lá, não é?
-Pois. - e como é fantasticamente inteligente, - O.K. Dar a mão é como tirar o Miguel do buraco.
-Sim Vera.
-Dar a mão é ajudar.
Por dentro rejubilei. É tão bom poder partilhar a minha vida com uma miúda como a Vera.
Soube desde a primeira vez que a vi que aqueles olhos grandes ser-me-iam confiados.
Nisto, o copo de leite com chocolate da Vera cai ao chão, estilhaçando-se.
-Aiiii! Dá-me a mão!
Enquanto apanhava os vidros e lhe limpava o vestido branco, não pude conter o riso.

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