25.4.06

e chamou.




Intoxicação 13

Pensou que o mundo estava a acabar.
Sonhou.
Afinal, era só o dia a chamar por ele.

24.4.06

disse que ia voar.













Fajã do Ouvidor, São Jorge, Açores.

tirado [daqui].

Intoxicação 12

Ele pensou que não podia desafinar - e cantou.
Ela quase morreu.

Intoxicação 11

Tudo o que não tem raízes, devia poder voar.

22.4.06

ao olhar para trás, perdi-me.

Eu sabia que o dia não me seria fiel, por isso, demorei a acordar. Por isso, esperei com a calma possível, que a noite se encarregasse disso.
Eram duas da manhã e a noite não chegava. Eram três da manhã e demorava a chegar.

Às quatro saí à procura de qualquer coisa e decidi-me que não voltaria atrás. Nunca mais. Não voltaria a olhar para trás. Nunca mais.

21.4.06

17.4.06

Conheci uma menina (XVI)

Eram cinco ou seis da tarde. O dia mostrava o sol, sem medo. O vento ficara para trás, mais lento que nós. A estrada era seca, deserta de gente.. e o que quer que víssemos não nos fazia querer parar. Eu ao volante, a Vera ao lado.
Ela, de pele já morena, vestido branco - salgado, dormia encostada à porta do jipe enquanto as mãos pequeninas brincavam com o cabelo seco e estragado.
Eu, de pele seca - salgada e morena, seguia de janela aberta à espera que o caminho me mostrasse poiso.
O dia tinha sido exaustivo. Praia desde cedo, muito mar, muita areia. Muito não-sei-quê que cansa e torna o suposto descanso tão impossível. Bóias, castelos, raquetes, conchas, búzios, sumos, sandes, bóias, castelos, raquetes, conchas, búzios..
E agora o jipe branco levava-nos pela costa alentejana abaixo.
Parámos, por fim, ao pé de uma paragem de autocarro, deserta de clientes - para onde vai um autocarro ali? Havia uma banca de melancias, laranjas e mais frutos que não vi.
-Quero uma melancia, por favor. Aquela - apontei.
-Faça favor, menina. Quer que abra já?
Entretanto Vera acordara e chamava por mim.
-Não sejas preguiçosa, há aqui melancia. - disse-lhe, sorrindo e olhando para as laranjas. - Pode abrir, se não se importa. - redargui ao senhor das melancias.
-Vera, prova, querida. - enquanto lhe passava uma fatia para as mãos dormentes.
Paguei e sentámo-nos no banco de quem espera pelo autocarro para não-sei-onde. Chegou, parou, abriu a porta.
-As meninas vão entrar?
-Vai para onde, Sr. motorista?
-Dizem que vai para longe - riu-se.
-Sim, para onde? - insisti.
Sorriu, e continuou a viagem. A Vera puxou-me o braço e apontou-me a matrícula ainda próxima do autocarro. Não tinha. Era uma chapa, grande, que ocupava toda a traseira. "Vou não sei para onde, levo não sei quem. Não volto." Corremos para o autocarro ainda vagaroso, enquanto o sumo da melancia nos escorria pela cara, mãos e roupa.
- Abra, por favor!
E, deixando o jipe para trás, seguimos juntas, como sempre.

6.4.06

6º Esq.


'Há decididamente algo de verdade nessa frase do mais-escuro-antes-do-amanhecer porque na manhã seguinte liguei para a clínica psiquiátrica do hospital e a minha vida começou a melhorar. A minha assistente associal, Mrs. Goldfrab, pegou num bloco e num lápis e começou a fazer uma lista de todas as drogas que eu tomara na minha vida: LSD, mescalina, Percodan, calmantes, Seconal, cocaína, ópio, anfetaminas, haxixe e marijuana. Acenou com a cabeça e comentou:
- Um belo arsenal.
Quando lhe disse que o meu agente da condicional era um estupor, ficou danada. Quando lhe disse que me sentia culpada de o Raymond se ter tornado um drogado porque fiquei grávida e lhe dei cabo da vida, ela disse-me que era um disparate. Quando lhe disse que achava que não amava o Jason, redarguiu que tinha a certeza que eu o amava. Agradou-me a revolta dela contra o Stanley Stupski mas não acreditei nas outras duas questões. Mesmo assim, era óptimo ter alguém do meu lado. Então, após dois meses de consultas semanais, classificou-me como esteta e disse:
- És muito inteligente para desperdiçares a tua vida. Devias ir para a faculdade.
Comecei a chorar.'

in Os Rapazes da Minha Vida, de Beverly Donofrio

3.4.06

take me home.



'me and you and everyone we know'.