30.7.05

Conheci uma menina (V)

Nunca a tinha visto assim. Encontrei-a no jardim ao lado da escola. Estava suja dos pés à cabeça pequenina. O vestido outrora branco com uma mancha de gelado, quase puído. Os caracóis sem o brilho habitual daquele cabelo escuro. Tudo ao contrário.
Sentámo-nos na relva áspera e desejei mais que tudo naquela altura que a seca fosse uma miragem. A relva estaria macia. Viva.
A Vera começou a contar-me, antes de lhe perguntar o que quer que fosse, que perdera 3 botões do vestido e que a mãe lhe dissera com uma expressão severa, ironicamente falsa, que não havia problema. Sentira-se, então, culpada.
Fiquei na dúvida daquilo que eu própria sentia. Senti a estupidez toda e o absurdo de não ser eu a mãe daquela Vera. Que me caíra na vida com o mesmo impacto de um meteorito e o encaixe de água entre areia. Mas sabia que não gostava de miúdos. Toda a vida o dissera.
Disse-lhe: "Oh Verinha, não sejas tola. Vamos comprar um vestido. Branco, pode ser? Nunca te vi de branco."
E depois quase morri de espanto quando a Vera me respondeu: "Adoro a tua imperfeição."

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