13.12.05

Reflexão

E troco os dias pelas noites sem o medo (simpático, infantil e razoável) de perder a luz de vista. 'Nem a todos os que vagueiam lhes falta o rumo.' E nem a mim, que não o tenho, tive ou estou perto de ter.

E estou há quase três meses em casa. De início, pensei estar a mentir a mim mesma. "Como é que me posso sentir em casa se estou aqui há tão pouco tempo?". Mas não. Continuo na busca incessante de mim. Continuo na busca incessante de que me olhem. Que olhem com olhos de "porquê". (E eu a escrever isto, eu que sempre abominei ler sobre isto!). Faço-me difícil àquilo que não conheço, e muito mais, àquilo que me toca e assusta. É a minha natureza. Mas sou branda de orgulho e reconheço aquilo que me faz bem. E isto faz-me bem.
É muito complicado explicar aquilo que nos leva a manter um blog. Muito mais, será explicar o porquê de manter um blog durante 2 anos. Impossível, quase, de explicar o porquê de uma escrita tão pessoal e intimista, tão aberta ou fechada como a minha, a que se tem acesso público. Não é a necessidade de exposição, haveria métodos melhores e mais eficazes. Penso que seja um vício.
Parece-me bem então, que seja apenas ao fim de dois anos e tal, que escrevo aqui, o primeiro post em que sou só eu. É provável que seja aquele que ninguém lê. É tão provável que seja o que ninguém lê como é tão pouco provável que me olhem com olhos de ver. É muito melhor ler coisas metaforizadas. É muito melhor tentar encontrar um sentido em qualquer coisa abstracta. É muito melhor imaginar a Vera, sem encontrar explicações lógicas para aquilo que criei. É muito melhor admirar a Vera e admitir até que ela possa existir, do que admitir que existe alguém tão bom ou tão mau para a criar. É mais fácil, admitir a existência que não se entende do que aquela que se conhece.
Bem cedo, bem mais acima - as desistências. Mas nunca escrevi para ninguém ler. Mentira. A cegueira e perda de sentido levam-nos a desencontros connosco próprios e algumas vezes pensei que alguém tomava atenção àquilo que dizia. Mas somos todos tão egoístas que só ouvimos aquilo que dizemos; e muito mais, quando o negamos.

(Shhhh..sou uma diletante, uma amante e uma inconsistente.)

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