13.11.05

Conheci uma menina (XI)

Chego sem pressa. Às 5:47. Abro a porta com o desejo surreal e absurdo de que o sítio onde me encontro fosse uma qualquer cidade dos filmes, onde as pessoas são assaltadas à porta de casa. Subo as escadas de pedra devagar. 20, 30 anos. Subimos e descemos todos os dias e ainda não estão brilhantes e polidas como as pedras da rua. Mas as pedras da rua passam por mais vidas. Maior o desgaste.
-Mãe, cheguei.
-Oh filhota, tudo bem? Apanhaste nevoeiro? - pergunta com falsa preocupação. Estou em casa, de saúde: não quer saber de mais nada. São apenas perguntas do hábito. No fundo, só quer que eu diga que não apanhei nevoeiro e que, de qualquer modo, conduziria devagar.
-Não, e vim devagar, de qualquer maneira..-respondo sem paciência.
Finalmente, o meu quarto. Entro na toca, acendo uma luz fraca. Estou impestada de fumo. A minha roupa, eu e tudo à minha volta, tresanda a tabaco queimado, fumado. Desarrumo o quarto com aquilo que parece, a quem entra de repente, uma lixeira de roupa.
Não encontro o meu pijama e noto finalmente que alguém já dorme naquela que costuma ser a minha cama. Sorrio para dentro e para fora. O cabelo escuro, brilhante e encaracolado, não engana ninguém. Descubro por fim, o meu pijama, já vestido nela. Deito-me ao lado da Vera e finjo que o meu sono dura há horas. Talvez assim me prolongue aquilo que seria a manhã quente.

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